sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Vivençias nao esquecidas


ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA

[São Pedro do Sul, 1879 - Belinho/Esposende, 1960]

Foi, sem dúvida, um dos poetas mais conhecidos da sua geração. Frequentou o Seminário de Viseu, mas interrompeu muito cedo os estudos - o que levaria, mais tarde, Maria Amália Vaz de Carvalho a considerar esse estado de "inocência do espírito" como uma das suas qualidades mais positivas. Tendo feito uma breve passagem pelo jornalismo no Diário Ilustrado, ingressou no funcionalismo público. A partir do 1912, data do seu casamento com uma senhora da aristocracia minhota, passou a viver na Quinta de Belinho, situada na freguesia das Antas, nas proximidades de Esposende. Publicou o primeiro livro aos 16 anos, encontrando-se desde essa obra definida a sua arte poética: uma simplicidade na trova ao gosto popular, um pendor narrativo que aproxima mais a sua lírica de certo romântismo epigonal que da genuína tradição portuguesa, os temas de exaltação patriótica, que o transformaram, a partir de certa altura, no poeta "oficial" do regime político vigente - conceito, aliás, injustamente redutor. Poeta de estro fácil, nele se conjugam o realismo junqueiriano, o idealismo cristão, o panteísmo tocado de saudosismo, à Pascoaes, do qual o separavam a intuição filosófica: importa, todavia, não esquecer que a sua vastíssima bibliografia inclui também obras de longo fôlego e alta inspiração, como, em verso branco, as Tentações de Sam Frei Gil, 1907. José Régio reconheceu nele "um cantor cheio de frescura e encanto, nas suas quadras e quintilhas em que a arte de Sá de Miranda se alia ao capricho da inspiração popular", e Jacinto do Prado Coelho diz, quanto ao lírico religioso, que, dos portugueses, "nenhum terá vivido com mais altura os mistérios do Génesis e da Redenção". António Correia de Oliveira foi um dos companheiros de Raul Brandão, que a ele várias vezes se refere, com ternura, nas Memórias.





Um dos seus poemas:

Língua portuguesa

Madre Língua portuguesa,
sombra dos coros divinos;
- Milagre da Natureza:
De rouca e surda rudeza
Erguida em sons cristalinos!

Língua santa, onde há, escrita,
esta palavra “Jesus”;
ou a ternura bendita
que nos diz: “Mãe” e palpita
na essência da própria luz.

Alta espada de dois gumes,
castelo das cem mil portas:
Língua viva, que resumes,
- rescaldo de tantos lumes! –
o génio das línguas mortas ...

Foste a leal companheira
dos meus avós: Quantas vezes,
- Tuba de oiro, à dianteira,-
junto a Deus, à sua beira,
chamavas os Portugueses!

Foste, a abrir-nos o caminho –
mais do que em mão de Gigante,
brônzea espada chamejante ...
- Ó Rola dentro do ninho!
ó Leão dilacerante!

Ouvi! - A Língua é Bandeira
da Pátria que reza e canta:
Bendito quem, - entre tanta
De altiva cor estrangeira, -
à luz do Sol a levanta!

1 comentário:

  1. Caro Ricardo:

    Bem-haja pela exist~encia do seu blog.

    Procuro "Mare Nostrum" ( 1939 ) do poeta António Correia de Oliveira do qual gostaria pelo menos de encontrar cópia. Talvez me saiba dar alguma notícia do respectivo paradeiro...

    Cumprimentos,

    Ana Maria Cordeiro

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